sábado, 7 de abril de 2012

Eu que respiro dias insalubres e mofados, feito laranjas que apodrecem dentro de sacolas de plástico, vou carregando um estômago angustiado. Vou andando em passos largos, arrastados, igual gente doente com indigestão. Rosto anêmico, corpo recostado em algum canto, retomo forças do ventre de mulher-macho. Ai de mim se tivesse a força de um homem grande. Ai de mim se parisse como mulher. Fecundo sozinha outros brotos de vida, que empalidecem porque sem fundos não se faz por si só. Não se pode perpetuar a espécie por mim, somente eu que quero parir, seja um pedaço de minha costela, seja meu rim. E sobre a natureza que consiste na razão que inventaram por aí, eu digo que haverá um tempo em que serei dona de minhas entranhas, de onde brotará o fruto, o bendito fruto.