quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Pra rua me levar

Não vou viver como alguém que só espera um novo amor
Há outras coisas no caminho onde eu vou
As vezes ando só trocando passos com a solidão
Momentos que são meus, e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
Eu vou lembrar você
É mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar


Ana Carolina

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

rima pobre.

percebo que o mundo gira devagar
e o tempo passa rápido demais
não sei se devo parar pra pensar
se devo seguir sem olhar pra trás
se o futuro pertence aos demais
ou só a quem eu penso ser eu
mas o mundo gira devagar
e o tempo não espera você chegar
o hoje era o ontem de amanhã
e quem sabe não se pode mais errar.

uma rima idiota.
saudade de escrever também.

domingo, 25 de janeiro de 2009

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

hoje a estrada é minha

de malas prontas
pronta pra partir
partir pra longe,
pra distrair.
não sei quando volto
só sei que devo ir
pra bem distante,
pra além daqui,
pra além de mim.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Por Markus Zusak

"Tive vontade de dizer muitas coisas à roubadora de livros, sobre a beleza e a brutalidade. Mas que poderia dizer-lhe sobre essas coisas que ela já não soubesse? Tive vontade de lhe explicar que constantemente superestimo e subestimo a raça humana - que raras vezes simplesmente a estimo. Tive vontade de lhe perguntar como uma mesma coisa podia ser tão medonha e tão gloriosa, e ter palavras e histórias tão almadiçoadas e tão brilhantes.
Nenhuma dessas coisas, porém, saiu de minha boca.
Tudo que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu disse à menina que roubava livros e a digo a você agora.

UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA:
Os seres humanos me assombram."

A última página de a menina que roubava livros. A última frase.
Um pouco familiar, não?! hehe.

domingo, 11 de janeiro de 2009

The Blues come over me

O Blues é um estilo musical criado por volta de 1603 pelos escravos africanos atracados no sul dos Estados Unidos. A música era uma forma de compensar a árdua jornada de trabalho que enfrentavam todos os dias nas plantações de algodão. As poesias expressavam o sofrimento, a angústia e a saudade da antiga terra, e eram envolvidas pelo ritmo calmo e suave do violão. Ao longo do tempo, o Blues também sofreu mudanças, modernizou-se, tornou-se cada vez mais conhecido, conquistando músicos e admiradores.
Outros estilos musicais como o ragtime, o jazz, o rhythm and blues, o rock and roll, a música country, além de ska-rocksteady, soul music, a música pop convencional e até a música clássica moderna se originaram ou foram influenciados de alguma forma pelo Blues.

Blues, que na tradução quer dizer melancolia, deixa de ser um estereótipo musical. Blues é a música da alma. É a expressão do estado de espírito. Suas notas e seus versos são capazes de preencher, de fazer sentir cada timbre soar dentro de nós. A sensualidade consegue transpassar as cordas do violão e da guitarra, o sopro da gaita ou do sax.


“The blues come up behind
The blues wait up ahead
The blues ask why you are born
If you just end up dead”
The Blues come over me – B.B. King, um dos maiores gênios do blues americano.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

o que se vê aqui

não é um simples acaso.
deixa ficar subentendido.

Fantasmas não choram

Sentada em frente à penteadeira do quarto, ela passeava a escova delicadamente por entre os compridos fios negros que hoje pareciam mais lisos. A pele branca destacava-se ainda mais dentro do vermelho da camisola de seda. A luz de um abajur próximo ajudava a refletir sua face de aspecto fantasmagórico. Era assim que ela se sentia. Um fantasma. Ao fitar os próprios olhos, parecia perfurar a alma em busca de algum resquício de vida. Por mais que ainda sentisse a textura macia do tapete aos seus pés, ou a brisa fria do vento que invadia o quarto e arrepiava os pêlos do corpo todo, mesmo assim, ela acreditava que seu abismo interior já havia sugado toda e qualquer forma de existência que um dia já esteve lá dentro dela.
A noite trazia o silêncio ensurdecedor. Trazia também as lembranças. O passado exalava o perfume das outras estações. Houve dias de sua vida que mereciam ser guardados dentro de uma caixa colorida com fitas de cetim. Houve momentos que mereciam durar uma eternidade. Agora só restavam lembranças.
Uma lágrima escorreu pelo rosto branco, sem expressão. Desceu lentamente, regando os poros que encontrava na superfície da pele. Tocou o canto dos lábios. Ela enxugou a pequena gota. Tratou de expulsar aquele amontoado de líquido celular. Recompôs-se. Afinal, fantasmas não choram.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

[...]

Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.


Fernando Pessoa

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Presente à flor do limo.

Menina dos olhos de mel
da pele morena e do cabelo macio.
Menina que se esconde longe
lá perto do mar,
debaixo do céu.
Sereia bonita, tão cheia de curvas
mistério e charme pra seduzir
a voz tão doce canta as notas mais suaves
que é pra encantar à quem por perto está.
Menina de luz, única, intensa
se entrega pro mundo, pra vida, e pra ser feliz.
Se cai, levanta.
Se sorri, contagia.
Se abraça, protege.
Menina do coração enorme, que acolhe, que ama.
É ela, Satine, completa por si só.
Beleza que não se compara, não se descreve.
Olhos sinceros de menina,
jeito distinto de mulher.

Flor bela.


Florbela Espanca nasceu em Vila Viçosa, Portugal, em 1894. Tornou-se poetisa e publicou várias obras, tais como Charneca em Flor (1930), Cartas de Florbela Espanca, por Guido Battelli (1930), Juvenília (1930), As Marcas do Destino (1931, contos), Cartas de Florbela Espanca, por Azinhal Botelho e José Emídio Amaro (1949) e Diário do Último Ano Seguido De Um Poema Sem Título, com prefácio de Natália Correia (1981). O livro de contos Dominó Preto ou Dominó Negro, várias vezes anunciado (1931, 1967), seria publicado em 1982.
Como uma de minhas autoras de preferência, Florbela me cativou pela sua feminilidade ao suavizar as palavras e torná-las mais íntimas. Temas como solidão, desespero, sofrimento, traduzidos em ternura, sensibilidade, me fizeram sentir atraída por seus versos.
Uma Don Juan mulher, que canta suas tristezas no papel, que nos faz apaixonar por seu talento.


"Ando a chamar por ti, demente, alucinada,
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…
O eco ao pé de mim segreda… desgraçada…
E só a voz do eco, irônica, responde!
Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
O vento, aos meus ouvidos, soluça a murmurar;
Parece a tua voz, a tua voz tão linda
Cantando como um rio banhado de luar!
Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Esta saudade enorme, esta saudade imensa!
E Só a voz do eco à minha voz responde…
Em gritos, a chorar, soluço o nome teu
E grito ao mar, à terra, ao puro azul do céu:
Aonde estás, amor? Aonde… aonde… aonde?…"

Um Ás de Copas fora do baralho

Olá, senhores e senhoras cartas. Como podem perceber sou um Ás de Copas. Há algum tempo me perdi de meu baralho e agora sigo por aí, em busca de um novo abrigo, e talvez uma resposta. Pois bem, deixem-me contar a minha triste história.
Eu morava longe daqui. Convivia com outras cartas muito simpáticas e morava com uma mulher que cuidava da gente. Ela era uma cigana. É, É... eu sei que toda carta deseja ser posse de uma cigana. Só elas sabem o valor que temos.
Ela era delicada. Podíamos sentir a suavidade de suas mãos ao nos embaralhar. Sentíamos que ela nos sentia. Só ela tinha aquele jeito dela de jogar, de abrir o jogo, de nos distribuir na mesa.
Dentre todas as cartas, eu era aquela que ela mais gostava. Ela me guardava no bolso de seu vestido verde e me levava por aí. Ela só não gostava muito quando me via no meio do jogo da sorte de alguém.
Foi então que um dia ela decidiu ler a própria sorte. Estava sentada na mesma mesa, por entre a penumbra, com o incenso e as velas acesas. Tudo como naturalmente era feito. Ela pegou as cartas e embaralhou todas. Eu estava lá no meio. Foi então que ela começou o jogo. De repente chegou a minha vez. Eu estava entre as cartas escolhidas. Isso assustava. Isso assustava muito.
A cigana levantou. Cambaleou para o lado. Sua respiração era um pouco ofegante. Pude ver a preocupação em seu semblante. Logo notei que eu era a carta inesperada que predizia má sorte.
Depois disso percebi que o comportamento da cigana em relação a mim, mudou. Eu já não era mais a carta preferida. Já não era carregada no bolso. Às vezes ela me trancava em uma gaveta, longe das outras.
Então, certo dia ela decidiu que eu já não faria mais parte daquele monte de baralho. Eu partiria para muito longe dela, para que não mais trouxesse o azar no jogo de sua vida.

Pois é, meus amigos. Agora estou aqui, de passagem apenas. Continuarei a seguir o meu destino. Quem sabe um dia encontre um baralho incompleto, onde caiba ainda um Ás de Copas perdido. E se os senhores um dia encontrarem uma cigana vestida de verde, dos olhos doces e da pele suave, peço-lhes que lhe digam que sinto falta do aconchego de seu bolso, do toque de suas mãos e do carinho que ela sabia me fazer sentir. Digam a esta mulher, que procuro ainda a resposta certa e os motivos certos de um adeus tão frio e amargo. Agora sou apenas um Ás de Copas vagando fora do baralho.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Um piano. Uma voz.

Sentada sobre o piano, ela cruzou as pernas e tragou o cigarro. As luzes do palco voltavam-se à ela. O pianista manobrava as notas no instrumento enquanto o jeito dela, displicente, seduzia o pequeno público diante de seus olhos. Uma das mãos ainda apoiava o seu peso sobre si mesma. Estava bêbada outra vez, mas sua voz enganava. Ela ainda canta como há muito tempo atrás. Agora cantava com a alma, com a dor que trazia e arranhava sua carne por dentro. Queria gritar alto e expulsar os demônios que atormentavam sua mente, mas eles voltariam. Só o que lhe restava era entoar a canção para que os fizessem adormecer por alguns instantes.

dispense o título.

O vinho tinto derramado no tapete trazia o cheiro da noite deprimente. Rosto cansado. Boca manchada de batom. Maquiagem borrada. O preto ainda delineava os olhos azuis.
Deitada no sofá da sala fitava o teto em profunda concentração, enquanto as cortinas da janela dançavam com o vento. Pílulas em cima da mesa e uma madrugada em branco lhe faziam companhia. Lágrimas escorriam por sua face suja de olheiras. Vestia seu vestido mais novo da cor de suas unhas pintadas de esmalte rubi. A sandália do salto alto encolhia-se em um canto qualquer. Seu corpo ainda exalava o perfume francês. Já havia se acomodado dentro de sua bolha não tão transparente.
Pensou que poderia ter se libertado, porém, arrependimento e escrúpulos eram só o que ainda restava em sua consciência. Que mais poderia sentir além da culpa e da pena de si mesma?
Sabia que a porta não estava trancada. Alguém havia partido há algumas horas atrás. Partido pra não mais voltar.
Já era quase de manhã. Enfim fechou os olhos. Tudo continuou no lugar. Tudo como ontem à noite. Tudo como deveria continuar.