quarta-feira, 9 de maio de 2012

Sempre alguma coisa

Eis que o tempo passa ensolarado, quente, suado. Pouco vento, sempre empoeirado. Prefiro o cinza frio do sul. O frio das palavras secas como vento e folhas de outono, não. Prefiro os campos verdes, o pasto imenso, a garoa molhada, o coração florido, o estômago borboletado, pêlos ouriçados. Pra onde foi? Pra onde fui? Pra onde fomos? Eu tu nós. vazio. Acho que viajar pra longe faz sentir saudades, quem sabe seja isso. Mas sinto palavras me arrombando os lábios porque não saem de dentro. Não vou mentir, nem gritar, nem descabelar. Nada. Só vou ficar aqui sentindo esse alguma coisa que me entristece. Esse alguma coisa com vontade de sentir Esse alguma coisa que espero sempre.

sábado, 7 de abril de 2012

Eu que respiro dias insalubres e mofados, feito laranjas que apodrecem dentro de sacolas de plástico, vou carregando um estômago angustiado. Vou andando em passos largos, arrastados, igual gente doente com indigestão. Rosto anêmico, corpo recostado em algum canto, retomo forças do ventre de mulher-macho. Ai de mim se tivesse a força de um homem grande. Ai de mim se parisse como mulher. Fecundo sozinha outros brotos de vida, que empalidecem porque sem fundos não se faz por si só. Não se pode perpetuar a espécie por mim, somente eu que quero parir, seja um pedaço de minha costela, seja meu rim. E sobre a natureza que consiste na razão que inventaram por aí, eu digo que haverá um tempo em que serei dona de minhas entranhas, de onde brotará o fruto, o bendito fruto.

domingo, 4 de setembro de 2011

Quase como um vento que passou e carregou pro outro lado do mundo a vontade de querer mais e mais. Seria passageiro? Não sabiam. Apenas buscaram saber se era real. E era. Era? Talvez não mais. Bastou? Não haviam respostas para tantas perguntas, não é mesmo?
Cansaram os ouvidos, os dizeres.
Perdia-se no ar, assim, aos poucos. Elas abriam as mãos e deixavam escapar por entres os dedos. Escorria para os pés. Esvaia o peso do sentir-se leve. Subjetivo dissolvido.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Passou Agosto angustiante sufocado
Vem agora Setembro. Doce e perfumado
Com o cheiro dela,
os carinhos dela,
meu bem-querer querido
Ahhh, meu sorriso é mais aberto vendo o sorriso dela
De perto, então...

Suspiro.

domingo, 14 de novembro de 2010

E toda aquela exaustão agora já não mais refletia apenas nos rostos cansados dos dois. Davam as mãos enquanto andavam juntos. Contavam piadas, tomavam sorvete enquanto passeavam no parque de diversões. Eram superficialmente felizes. Eram completos em suas cascas de pessoas protegidas. Porem, ao deitarem em suas camas, cada qual virado para o lado oposto ao outro, pensavam e sonhavam e choravam baixinho por saudade de alguma experiência vivenciada nos anos anteriores aos de casados, ou porque sentiam-se cansados de toda aquela realidade normal. Os dias passavam lentamente, quase não percebiam sol, estrelas, a fragrância exalada das flores durante a primavera. Viviam enclausurados naquele apartamento com cheiro de mofo, sem nenhuma samambaia para regar ao fim do dia, ou uma sacada para apreciar o silencio da rua nos domingos de inverno. Havia pouco diálogo quando estavam sozinhos dentro da gaiola mofada. Comentavam sobre o capitulo da novela das oito, ou assistiam algum clássico dos cinemas de 1950.
Ela sempre fora muito resguardada. Não comentava detalhes sobre sua juventude antes de conhecê-lo. Guardava segredos que ele também não fazia questão de saber, já que também camuflava os seus com todo o cuidado para não transparecer. Escondiam o passado como se escondessem crimes.
E assim viviam suas vidas retratadas em dias, meses, anos. Distanciavam-se cada vez mais entre si. Se distanciavam cada vez mais do passado particular de cada um, já que o tempo se encarregava em deixar para trás as épocas de mocidade. E sorriam enquanto dormiam. Recordavam-se todas as noites e deliciavam-se de lembranças. Lembranças suficientes que satisfaziam desejos.

sábado, 13 de novembro de 2010

Caminhando por algumas ruas perdidas no meio dessa cidade enorme depois de sair pelo portão de casa com a cabeça rodopiante de pensamentos confusos, me veio a súbita impressão de uma dissociação da minha própria matéria. Depois de aquela noticia entrar pelos meus tímpanos, ser reproduzida pelo meu cérebro cheio de neurônios interligados por sinapses nervosas, me dei conta que eu não mastigaria instantaneamente aquela informação, aquela conversa, aquelas lagrimas escorridas do rosto de quem eu devo a minha vida. E de um momento para outro, numa fração de segundos que pairava em algum relógio de parede de alguma casa daquela rua qualquer, me percebi afogada por uma realidade que estilhaçou todos os meus conceitos de realidade. Era como se eu já não fizesse mais parte desse todo integrante do nosso mundo de átomos e moléculas. Como se todas as pessoas andantes, todas as casas, os prédios, os carros, os semáforos, as arvores, as bicicletas, os postes de luz, as lojas, as pedras e concretos, estivessem alheios a minha existência. Como se eu fosse um animal perdido, fora do seu habitat natural. Tudo passou a ser tão superficial, sem naturalidade nenhuma. As coisas são de plástico, de tecido, de madeira, de tinturas que colorem as roupas e as coisas e os rostos de toda essa gente vazia, cheias de razoes, verdades e mentiras que contam por aí apenas para sustentar a própria vaidade e para encontrarem bons motivos que as façam sentirem mais felizes. E se satisfazem com tão pouco. Passam a vida toda procurando um sentido que alimente a ilusão de vivenciar o prazer, o que é julgado como bom e saudável.
E aquele universo todo diante dos meus olhos me engolia mais e mais a cada passo que eu andava. O mundo é uma bolha gigante sem saída. E eu estava lá dentro também, sem ter pra onde correr, pra onde fugir e esconder de mim aqueles pensamentos em estado de ebulição. Os movimentos, os sons, as luzes das lâmpadas me invadiam sem cessar, sem autorização. Eu não fazia parte de nada, ao mesmo tempo que me engoliam por inteiro.

E num outro instante, como se um rio invertesse o rumo de suas águas, minha formulação de idéias excêntricas inverteram-se. Afinal, eu também engolia tudo ao meu redor. Sugava as pessoas, afogava-as, fazia delas a minha base, a minha felicidade egocêntrica, a minha ilusão egoísta e me satisfazia delas para curar feridas, sem perceber o quanto isso as esfolavam por dentro.

Pode ser incompreensível demais. Talvez uma admissão de loucura. Talvez todas as circunstancias e fatos vividos nos últimos tempos tenham me levado ao limite da sanidade. Mas dessa vez não se trata de fraqueza, de medo, de insegurança. Trata-se de proteger os sentimentos, tanto meus, quanto os seus, quanto os deles. Trata-se de motivos coerentes, de me arriscar para ninguém mais correr os riscos que me pertencem, que são resultados dos meus erros e acertos.

Chegou o momento onde é preciso isolar-se. Sentir-se fora do meio, longe da multidão corrompida. É preciso me encontrar, me entender, me sentir. É preciso recompor meu espírito, recompor minha vida, curar as feridas e redimir os crimes cometidos àqueles que amo e que quero bem, mesmo na distancia.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"E no fim..."

Ontem até tentei escrever, mas seria impossível dizer qualquer coisa coerente, em meio a tanta confusão. Cabeça girando numa órbita constante, estômago comprimido, sufocado, olhos vermelhos de sono, cansaço mental. Tentar montar um quebra-cabeça de fatos mal explicados, ao mesmo tempo tentando manter a razão, envolvendo a emoção, a flor da pele, diga-se de passagem, é desgastante demais, e acho que prefiro esquecer e deixar de lado o que passou.
As dúvidas ainda estão formuladas dentro de um ponto de interrogação gigante. Compreender motivos e causas, talvez seja um consolo, no entanto, algumas situações as vezes testam nossa capacidade de defesa dos próprios sentimentos. De fazer entender por si só o que ocorre dentro da gente, dentro de outra pessoa.
“E no fim é você contra você mesmo.”
[...]

P.s: esboçado em 14 de setembro.