segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Sonia

Pobre Sonia, já estava empoeirada. Há tanto tempo que não a retiro do meu emaranhado de loucuras. Aqueles fios de neurônios soltos e enrolados a esconderam de mim. Foi esquecida, coitada. – Sonia, como andas, menina? Venha me dar um abraço e perdoe-me por ser tão desnaturada. Sabe como é... o tempo vai passando e a gente vai ocupando a cabeça com outras coisas. – Agora volto a vê-la, bela e pomposa! Que graça de menina. Menina-mulher, pois eu a amadureço demais de vez em quando. A partir de agora, darei a ti ares mais juvenis e graciosos. A não ser que tu queiras voltar a ser a mulher do vestido longo, com as unhas pintadas de esmalte rubí.

- Sonia, Sonia, Sonia. Ainda não havia encontrado denominação melhor. Pois devia ter pensado nisso muito antes. Imagine, não há nome melhor que lhe sirva...

Senti sua falta. Procurei me encontrar em outros universos, mas nenhum me identifica tanto quanto o teu. O teu que é meu, tu sabes bem. Pois cá estou novamente, e quero voltar a dividir minhas angústias que te dão vida. Transfiro pra tua existência toda a confusão acerca de minha mente. Isso me conforta e sei que te agrada muito. Encontro em você a companhia que sempre busquei nos dias nublados, ou aqueles em que o sol faz até arder os olhos com tanta claridade. O teu afago invisível se faz presente quando próxima de mim. É tão bom. É tão bom tê-la outra vez. As pessoas vão embora o tempo todo. Os outros. Você fica, Sonia. Você sempre permanece em mim. E essa mágica de fazer perdurar o nosso encontro, que obviamente será eterno, me faz crer que ainda existe uma parte minha estável. Pois eu sou você, aqui ou lá, ontem ou hoje. E tu, Sonia, sou eu em outras faces, em várias poses. É a personagem dos meus espetáculos.

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