Um cenário de vidro, caído. A peça não terminou. Palhaços na platéia. O público no palco. Saudações.
A protagonista fugiu. Voou, voou...
Sem pés no chão, sapatos na mão. Olhou pro céu, e então caiu, estatelou.
Um cenário de vidro. A protagonista quebrou. Acabou, acabou...
quarta-feira, 25 de março de 2009
sexta-feira, 13 de março de 2009
Fotografia
Hoje o mar faz onda feito criança, no balanço calmo a gente descansa.Nessas horas dorme longe a lembrança de ser feliz. Quando a tarde toma a gente nos braços, sopra um vento que dissolve o cansaço. É o avesso do esforço que eu faço pra ser feliz. O que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia. As cores, figuras, motivos. O sol passando sobre os amigos. Histórias, bebidas, sorrisos. E afeto em frente ao mar. Quando as sombras vão ficando compridas enchendo a casa de silêncio e preguiça, nessas horas é que Deus deixa pistas pra eu ser feliz. E quando o dia não passar de um retrato, colorindo de saudade o meu quarto, só aí vou ter certeza de fato que eu fui feliz.O que vai ficar na fotografia são os laços invisíveis que havia. As cores, figuras, motivos. O sol passando sobre os amigos. Histórias, bebidas, sorrisos. E afeto em frente ao mar.
Leoni
Leoni
terça-feira, 10 de março de 2009
Lençois de seda
Ela engole o ar seco. Tem gosto de fel, corta, arranha. As mãos envergonhadas abraçam o dinheiro sujo. Trabalho feito. Prazer financiado em notas de papel. Qual seria o preço que Deus pagaria pelo corpo que fora inspirado em Sua imagem e semelhança? O diabo trocá-lo-ia pela alma.
A cama vazia, o olhar dela no espelho quebrado. Contorce-se entre os lençóis, grita, entorpecida com a ferida que se abriga em seu ventre. A dor fere-lhe. São como estacas que invadem os poros de sua pele. São como espinhos que espetam a carne macia.
Aonde chegara, afinal? Já não havia mais portas onde pudesse escolher uma saída sem escorregar pelos degraus da escada que conseguiu subir. Tentou mudar, salvar-se, mas a vida talvez não lhe tivesse sido tão generosa.
Por trás dos olhos de mel, havia ainda os olhos amargos.
Correu para a sacada do prédio, vestida de lençóis de seda e lágrimas de sangue. Despiu-se e deitou-se no chão frio de mármore. Purificava o corpo sob a luz de uma lua cheia, cheia de piedade. O ar gélido reprimia seu corpo contra ele mesmo. Corpo bordado de flores. Seios que seduziam o céu. Lábios que cantavam silêncio. Musa de uma noite morta. Os braços e pernas lhe pareciam não fazer mais parte do conjunto de suas curvas. Derretia-se no veneno de seu pecado.
A cama vazia, o olhar dela no espelho quebrado. Contorce-se entre os lençóis, grita, entorpecida com a ferida que se abriga em seu ventre. A dor fere-lhe. São como estacas que invadem os poros de sua pele. São como espinhos que espetam a carne macia.
Aonde chegara, afinal? Já não havia mais portas onde pudesse escolher uma saída sem escorregar pelos degraus da escada que conseguiu subir. Tentou mudar, salvar-se, mas a vida talvez não lhe tivesse sido tão generosa.
Por trás dos olhos de mel, havia ainda os olhos amargos.
Correu para a sacada do prédio, vestida de lençóis de seda e lágrimas de sangue. Despiu-se e deitou-se no chão frio de mármore. Purificava o corpo sob a luz de uma lua cheia, cheia de piedade. O ar gélido reprimia seu corpo contra ele mesmo. Corpo bordado de flores. Seios que seduziam o céu. Lábios que cantavam silêncio. Musa de uma noite morta. Os braços e pernas lhe pareciam não fazer mais parte do conjunto de suas curvas. Derretia-se no veneno de seu pecado.
domingo, 8 de março de 2009
ao dia das mulheres
A pérola que encontrei no blog de Thiago Chiapetti, jornalista do Jornal de Beltrão:
"02 de março de 2009
O dia delas
No próximo dia 8, o mundo homenageia as mulheres. Não sei exatamente a origem desta comemoração, mas compreendo que se trata de uma data muito bonita. Muitas delas recebem flores, poesias e presentes.
E não apenas neste dia, as mulheres são rotineiramente surpreendidas. É no aniversário de nascimento, de namoro, de casamento, no Dia das Mães, num dia qualquer com uma demonstração de amor do pai, do irmão, do namorado, do marido ou do amante. É sempre bom preparar aquela surpresa.
Elas amam. Ainda mais se for com flores ou bombons.
Tem gente que faz aquela piada de que todos os outros dias do ano são dos homens. Eu não concordo. Entendo que todo dia é dia de homenagear, seja homem ou mulher. No entanto, neste momento em que a humanidade comemora um movimento feminista, vale destacar um comparativo que constatei esta semana.
No sábado, as mulheres se reuniram no Santa Fé, num chá promovido pelo Apoio Feminino da Adhonep. Tudo muito bonito, tudo muito delicado. Pude perceber que elas realmente conquistam o mercado de trabalho. Mas confesso que serei eternamente admirador daquelas corajosas que renunciaram a profissão para dedicar-se ao ofício de cuidar dos filhos e do marido e administrar a casa.
Este é, inclusive, o tema do suplemento especial do Dia da Mulher do Jornal de Beltrão deste ano. Enquanto ainda produzimos as reportagens, constato lindas histórias de mulheres que se destacam, sem deixar o seu lar. Onde quer que elas estejam, estão sempre colorindo os nossos olhos."
Agora, a minha resposta ao tal jornalista:
"Resposta ao jornalista Thiago Chiapetti do Jornal de Beltrão.
Não precisamos de flores, bombons, presentes, poesias, enfim, agrados materiais que o jornalista Thiago Chiapetti acredita que nós, mulheres, amamos receber, se não temos o reconhecimento da nossa importância na sociedade. O nosso caro jornalista relata em seu discurso, “Não sei exatamente a origem desta comemoração, mas compreendo que se trata de uma data muito bonita.”. A partir daí o artigo perdeu totalmente o sentido. Acredito que a função de um jornalista é buscar informações sobre aquilo o que ele deseja escrever publicamente. Até mesmo meu irmão de seis anos de idade já aprendeu sobre a origem da comemoração do dia das mulheres (deixo claro minha ironia).
Quanto ao tema do suplemento especial do Dia da Mulher do Jornal de Beltrão que homenageia as mulheres donas-de-casa, “mulheres que se destacam, sem deixar o seu lar”, segundo Chiapetti, quero dizer que também as admiro. No entanto, a razão de se comemorar essa data está refletida na luta que as mulheres sempre enfrentaram em sobressair-se no mercado de trabalho, buscando por direitos iguais, por melhores salários, pelo fim da violência e o preconceito masculino, ou seja, a desvalorização da mulher na sociedade. Essa luta não é de hoje, como relata o autor ao dizer, “neste momento em que a humanidade comemora um movimento feminista”. Engana-se, pois há décadas que o movimento feminista vem ocorrendo [informe-se melhor, caro informante].
Quanto ao “comemorar”, o que exatamente deveríamos comemorar? Os baixos salários comparados aos dos homens? A violência que as mesmas sofrem por seus pais, namorados, companheiros? A ingratidão dos próprios filhos? A “mercantilização” do corpo como produto de venda publicitária? Sim, já alcançamos muitas conquistas e direitos. Eles estão contidos em algum lugar da legislação brasileira, mas será que na prática também?
Nós, mulheres, ainda temos muita camisa para suar, muitos leões para matar, muitas batalhas para vencer. E repito, não são flores, bombons, presentes e poesias que vão nos satisfazer, mas sim, o respeito e a consideração de uma sociedade machista.
Stephanie Natalie Burille, 19 anos, estudante de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná."
"02 de março de 2009
O dia delas
No próximo dia 8, o mundo homenageia as mulheres. Não sei exatamente a origem desta comemoração, mas compreendo que se trata de uma data muito bonita. Muitas delas recebem flores, poesias e presentes.
E não apenas neste dia, as mulheres são rotineiramente surpreendidas. É no aniversário de nascimento, de namoro, de casamento, no Dia das Mães, num dia qualquer com uma demonstração de amor do pai, do irmão, do namorado, do marido ou do amante. É sempre bom preparar aquela surpresa.
Elas amam. Ainda mais se for com flores ou bombons.
Tem gente que faz aquela piada de que todos os outros dias do ano são dos homens. Eu não concordo. Entendo que todo dia é dia de homenagear, seja homem ou mulher. No entanto, neste momento em que a humanidade comemora um movimento feminista, vale destacar um comparativo que constatei esta semana.
No sábado, as mulheres se reuniram no Santa Fé, num chá promovido pelo Apoio Feminino da Adhonep. Tudo muito bonito, tudo muito delicado. Pude perceber que elas realmente conquistam o mercado de trabalho. Mas confesso que serei eternamente admirador daquelas corajosas que renunciaram a profissão para dedicar-se ao ofício de cuidar dos filhos e do marido e administrar a casa.
Este é, inclusive, o tema do suplemento especial do Dia da Mulher do Jornal de Beltrão deste ano. Enquanto ainda produzimos as reportagens, constato lindas histórias de mulheres que se destacam, sem deixar o seu lar. Onde quer que elas estejam, estão sempre colorindo os nossos olhos."
Agora, a minha resposta ao tal jornalista:
"Resposta ao jornalista Thiago Chiapetti do Jornal de Beltrão.
Não precisamos de flores, bombons, presentes, poesias, enfim, agrados materiais que o jornalista Thiago Chiapetti acredita que nós, mulheres, amamos receber, se não temos o reconhecimento da nossa importância na sociedade. O nosso caro jornalista relata em seu discurso, “Não sei exatamente a origem desta comemoração, mas compreendo que se trata de uma data muito bonita.”. A partir daí o artigo perdeu totalmente o sentido. Acredito que a função de um jornalista é buscar informações sobre aquilo o que ele deseja escrever publicamente. Até mesmo meu irmão de seis anos de idade já aprendeu sobre a origem da comemoração do dia das mulheres (deixo claro minha ironia).
Quanto ao tema do suplemento especial do Dia da Mulher do Jornal de Beltrão que homenageia as mulheres donas-de-casa, “mulheres que se destacam, sem deixar o seu lar”, segundo Chiapetti, quero dizer que também as admiro. No entanto, a razão de se comemorar essa data está refletida na luta que as mulheres sempre enfrentaram em sobressair-se no mercado de trabalho, buscando por direitos iguais, por melhores salários, pelo fim da violência e o preconceito masculino, ou seja, a desvalorização da mulher na sociedade. Essa luta não é de hoje, como relata o autor ao dizer, “neste momento em que a humanidade comemora um movimento feminista”. Engana-se, pois há décadas que o movimento feminista vem ocorrendo [informe-se melhor, caro informante].
Quanto ao “comemorar”, o que exatamente deveríamos comemorar? Os baixos salários comparados aos dos homens? A violência que as mesmas sofrem por seus pais, namorados, companheiros? A ingratidão dos próprios filhos? A “mercantilização” do corpo como produto de venda publicitária? Sim, já alcançamos muitas conquistas e direitos. Eles estão contidos em algum lugar da legislação brasileira, mas será que na prática também?
Nós, mulheres, ainda temos muita camisa para suar, muitos leões para matar, muitas batalhas para vencer. E repito, não são flores, bombons, presentes e poesias que vão nos satisfazer, mas sim, o respeito e a consideração de uma sociedade machista.
Stephanie Natalie Burille, 19 anos, estudante de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná."
sábado, 7 de março de 2009
“Perto do coração selvagem”, Clarice Lispector .
“Sinceramente, eu vivo. Quem sou? Bem, isso já é demais. Lembro-me de um estudo cromático de Bach e perco a inteligência. Ele é frio e puro como o gelo, no entanto pode-se dormir sobre ele. Perco a consciência, mas não importa, encontro maior serenidade na alucinação. É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer, porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto transforma lentamente no que eu digo. Sinto quem sou e a impressão está alojada na parte alta do cérebro, nos lábios – na língua principalmente -, na superfície dos braços e também correndo dentro, bem dentro do meu corpo, mas onde, onde mesmo, eu não sei dizer. O gosto é cinzento, um pouco avermelhado, nos pedaços velhos um pouco azulado, e move-se como gelatina, vagarosamente. Às vezes torna-se agudo e me fere, chocando-se comigo. Muito bem, agora pensar em céu azul, por exemplo. Mas sobretudo donde vem essa certeza de estar vivendo? Não, não passo bem. Pois ninguém se faz essas perguntas e eu... mas é que basta silenciar para só enxergar, abaixo de todas as realidades, e única irredutível, a da existência. ”
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