terça-feira, 10 de março de 2009

Lençois de seda

Ela engole o ar seco. Tem gosto de fel, corta, arranha. As mãos envergonhadas abraçam o dinheiro sujo. Trabalho feito. Prazer financiado em notas de papel. Qual seria o preço que Deus pagaria pelo corpo que fora inspirado em Sua imagem e semelhança? O diabo trocá-lo-ia pela alma.
A cama vazia, o olhar dela no espelho quebrado. Contorce-se entre os lençóis, grita, entorpecida com a ferida que se abriga em seu ventre. A dor fere-lhe. São como estacas que invadem os poros de sua pele. São como espinhos que espetam a carne macia.

Aonde chegara, afinal? Já não havia mais portas onde pudesse escolher uma saída sem escorregar pelos degraus da escada que conseguiu subir. Tentou mudar, salvar-se, mas a vida talvez não lhe tivesse sido tão generosa.
Por trás dos olhos de mel, havia ainda os olhos amargos.

Correu para a sacada do prédio, vestida de lençóis de seda e lágrimas de sangue. Despiu-se e deitou-se no chão frio de mármore. Purificava o corpo sob a luz de uma lua cheia, cheia de piedade. O ar gélido reprimia seu corpo contra ele mesmo. Corpo bordado de flores. Seios que seduziam o céu. Lábios que cantavam silêncio. Musa de uma noite morta. Os braços e pernas lhe pareciam não fazer mais parte do conjunto de suas curvas. Derretia-se no veneno de seu pecado.

Um comentário:

Thico Lima disse...

Você é perfeita, assim como suas palavras.

;]