sábado, 3 de julho de 2010

À Petit-four

Foi um instante de distração, talvez um mero acaso, ou o destino com suas artimanhas infalíveis. Bom, não importa como, apenas que há dois anos nossos caminhos se cruzaram em uma tarde qualquer (de primavera, suspeito) em um desses corredores que fazem a gente cruzar olhares com pessoas estranhas casualmente. E lá estava você com seus cachos interessantes, aquela cor do pecado, aquele sorriso de peixe-palhaço-simpático distribuindo panfletos artísticos. Obviamente não pude deixar de notar aquela beleza fora do padrão, exótica, inconfundível aos olhos de quem se encanta tão facilmente. Minhas tentativas de manter algum contato direto, com intenções mais ousadas, não tiveram muito sucesso na época. Mas tudo bem, o tempo é um bom companheiro. Você se tornaria minha paixão platônica adormecida naquele desejo súbito de conhecer um beijo seu. E então as estações mudariam, os ventos seguiriam outra direção, pessoas passariam por minha vida e me levariam até você outra vez.

Você surgiu tão natural quanto o seu abraço que me aquece no frio da madrugada, perambulando sozinhas pelas ruas. E quando te vejo, no final de todos os dias cansativos, minhas energias se renovam com a sua presença. É você quem está ali pra escutar todas as reclamações, inclusive o estresse na calamidade do trânsito. E eu gosto de você do jeito que você é. Gosto quando toca violão e canta baixinho, só pra mim. E sua voz é tão gostosa que as vezes eu adormeço ouvindo você cantar Marisa Monte. Gosto até quando teima comigo até ganhar a causa e se empanturrar de cachorro quente da esquina coberto de ketchup. Também não ligo taaaanto (perceba a ênfase) pras suas crises de insanidade pisciana (vulgo “ciúmes”) por que depois de cada discussão vêm a vontade imediata de fazer as pazes. Você é linda com uma flor no cabelo, no meio da praça, deitada na toalha estendida, olhando as árvores com suas folhas secas de outono. É mais linda ainda quando meus olhos te fotografam de longe, enquanto você aprecia o céu coberto de estrelas, no meio de um gramado imenso que tem no caminho pra casa. E voltamos de mãos dadas com você me ensinando a cantar pelo diafragma. Adoro quando me surpreende, como quando me deu um cd novinho da Edith Piaf, enquanto eu te dei um pote de Pringles (falsificado, diga-se de passagem). Ou quando me pediu em namoro, no meio de uma rua deserta, de madrugada, ouvindo o farfalhar das folhas de árvores desassossegadas com o vento. Admiro o seu jeito meio moleca inconseqüente, meio mulher madura e responsável. Admiro o seu coração, seu jeito doce, que foi me conquistando aos poucos, junto com o truque de me dar flores quase todos os dias. Fica aí a dica de conquista (risos).

E assim a gente segue esse romance ganho pelo tempo, não o tempo de espera, mas o tempo certo, pras coisas acontecerem no momento exato. Cada uma com seus defeitos e qualidades indispensáveis, suas dores e cicatrizes e a reciprocidade de sentimento. A gente se cura, se entende e se completa.

Petit-four, meus dias são mais felizes com você do meu lado.


“Onde a brasa mora e devora o breu

Como a chuva molha o que se escondeu.
O seu olhar, seu olhar melhora, melhora o meu.”

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