terça-feira, 6 de janeiro de 2009

dispense o título.

O vinho tinto derramado no tapete trazia o cheiro da noite deprimente. Rosto cansado. Boca manchada de batom. Maquiagem borrada. O preto ainda delineava os olhos azuis.
Deitada no sofá da sala fitava o teto em profunda concentração, enquanto as cortinas da janela dançavam com o vento. Pílulas em cima da mesa e uma madrugada em branco lhe faziam companhia. Lágrimas escorriam por sua face suja de olheiras. Vestia seu vestido mais novo da cor de suas unhas pintadas de esmalte rubi. A sandália do salto alto encolhia-se em um canto qualquer. Seu corpo ainda exalava o perfume francês. Já havia se acomodado dentro de sua bolha não tão transparente.
Pensou que poderia ter se libertado, porém, arrependimento e escrúpulos eram só o que ainda restava em sua consciência. Que mais poderia sentir além da culpa e da pena de si mesma?
Sabia que a porta não estava trancada. Alguém havia partido há algumas horas atrás. Partido pra não mais voltar.
Já era quase de manhã. Enfim fechou os olhos. Tudo continuou no lugar. Tudo como ontem à noite. Tudo como deveria continuar.

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