quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Um Ás de Copas fora do baralho

Olá, senhores e senhoras cartas. Como podem perceber sou um Ás de Copas. Há algum tempo me perdi de meu baralho e agora sigo por aí, em busca de um novo abrigo, e talvez uma resposta. Pois bem, deixem-me contar a minha triste história.
Eu morava longe daqui. Convivia com outras cartas muito simpáticas e morava com uma mulher que cuidava da gente. Ela era uma cigana. É, É... eu sei que toda carta deseja ser posse de uma cigana. Só elas sabem o valor que temos.
Ela era delicada. Podíamos sentir a suavidade de suas mãos ao nos embaralhar. Sentíamos que ela nos sentia. Só ela tinha aquele jeito dela de jogar, de abrir o jogo, de nos distribuir na mesa.
Dentre todas as cartas, eu era aquela que ela mais gostava. Ela me guardava no bolso de seu vestido verde e me levava por aí. Ela só não gostava muito quando me via no meio do jogo da sorte de alguém.
Foi então que um dia ela decidiu ler a própria sorte. Estava sentada na mesma mesa, por entre a penumbra, com o incenso e as velas acesas. Tudo como naturalmente era feito. Ela pegou as cartas e embaralhou todas. Eu estava lá no meio. Foi então que ela começou o jogo. De repente chegou a minha vez. Eu estava entre as cartas escolhidas. Isso assustava. Isso assustava muito.
A cigana levantou. Cambaleou para o lado. Sua respiração era um pouco ofegante. Pude ver a preocupação em seu semblante. Logo notei que eu era a carta inesperada que predizia má sorte.
Depois disso percebi que o comportamento da cigana em relação a mim, mudou. Eu já não era mais a carta preferida. Já não era carregada no bolso. Às vezes ela me trancava em uma gaveta, longe das outras.
Então, certo dia ela decidiu que eu já não faria mais parte daquele monte de baralho. Eu partiria para muito longe dela, para que não mais trouxesse o azar no jogo de sua vida.

Pois é, meus amigos. Agora estou aqui, de passagem apenas. Continuarei a seguir o meu destino. Quem sabe um dia encontre um baralho incompleto, onde caiba ainda um Ás de Copas perdido. E se os senhores um dia encontrarem uma cigana vestida de verde, dos olhos doces e da pele suave, peço-lhes que lhe digam que sinto falta do aconchego de seu bolso, do toque de suas mãos e do carinho que ela sabia me fazer sentir. Digam a esta mulher, que procuro ainda a resposta certa e os motivos certos de um adeus tão frio e amargo. Agora sou apenas um Ás de Copas vagando fora do baralho.

2 comentários:

Kamilla Maia disse...

Esta Cigana é vagante, como todas as outras!
E sabe por qual motivo, que não foi o maior, amor tenho certeza que não... deixou essa carta, tão bela, agora vagar também, sem pertencer a seu meio.
O Ás de Copas é tão belo, e tão importante, tão mais que esta Cigana.
Pelo menos, a meu ver.

Na Beira do Palco disse...

o ás de copas não é a carta da má sorte... eu continuo guardando-o comigo, no bolso interno ou dentro do chapéu... qualquer lugar onde possa mantê-lo intacto, seguro, e meu...