Sentada em frente à penteadeira do quarto, ela passeava a escova delicadamente por entre os compridos fios negros que hoje pareciam mais lisos. A pele branca destacava-se ainda mais dentro do vermelho da camisola de seda. A luz de um abajur próximo ajudava a refletir sua face de aspecto fantasmagórico. Era assim que ela se sentia. Um fantasma. Ao fitar os próprios olhos, parecia perfurar a alma em busca de algum resquício de vida. Por mais que ainda sentisse a textura macia do tapete aos seus pés, ou a brisa fria do vento que invadia o quarto e arrepiava os pêlos do corpo todo, mesmo assim, ela acreditava que seu abismo interior já havia sugado toda e qualquer forma de existência que um dia já esteve lá dentro dela.
A noite trazia o silêncio ensurdecedor. Trazia também as lembranças. O passado exalava o perfume das outras estações. Houve dias de sua vida que mereciam ser guardados dentro de uma caixa colorida com fitas de cetim. Houve momentos que mereciam durar uma eternidade. Agora só restavam lembranças.
Uma lágrima escorreu pelo rosto branco, sem expressão. Desceu lentamente, regando os poros que encontrava na superfície da pele. Tocou o canto dos lábios. Ela enxugou a pequena gota. Tratou de expulsar aquele amontoado de líquido celular. Recompôs-se. Afinal, fantasmas não choram.
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Um comentário:
- o passado não volta!
mas a gente pode escrever um novo futuro.
sem tanta dor, apesar das lágrimas serem inevitáveis, em algums momentos.
independente de tudo, não se esqueça que eu estarei contigo! ;@
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