sábado, 26 de dezembro de 2009
e é quando se encontra uma palavra certa, um sorriso esperto, daqueles que enfeitam o rosto
que tudo fica mais doce e delicioso
e é como quando a gente bota os pés descalços na grama verde, na terra fofa, molhando os cabelos com chuva fresca
aí vem aquela sensação de liberdade que a gente alcança num instante único
e é quando se observa o céu no final da tarde e quase confundimos com uma obra de arte de algum artista famoso
as cores de um infinito em algodão doce.
e é tão bonito olhar o nada e admirar essa imensidão de matéria abstrata...
é quando a gente encontra pétalas nas mãos da moça que a gente ama. suave toque da pele macia que me acarinha
me acorda com voz de sono. me faz fechar os olhos pra enxergar de dentro o que eu não consigo ver daqui.
é tão bonita essa beleza pura que a gente sente
vai tomando conta aos poucos
alimentando a alma com fome de vida
sábado, 21 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Escreve cem vezes a mesma palavra na parede. Escreve, escreve, escreve pra que? Pra quem? Pra mim? Não sei, José. Desenha, pinta e rabisca. Escreve nas linhas brancas da tinta. Observo. É bonito. É bonita a escrita. Sem coerência nenhuma. A mesma palavra, só. Um nome? Uma coisa? Um desejo recolhido. Com giz de cera, caneta invisível, preenche centímetros retilíneos. Escreve cem vezes a mesma palavra. Poesia até nas tranças do cabelo comprido. Debruça-se no chão, faz contornos com os dedos. Desenha um sorriso nos lábios e cola na parede. Escreve cem vezes, incansavelmente.
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Sonia
Pobre Sonia, já estava empoeirada. Há tanto tempo que não a retiro do meu emaranhado de loucuras. Aqueles fios de neurônios soltos e enrolados a esconderam de mim. Foi esquecida, coitada. – Sonia, como andas, menina? Venha me dar um abraço e perdoe-me por ser tão desnaturada. Sabe como é... o tempo vai passando e a gente vai ocupando a cabeça com outras coisas. – Agora volto a vê-la, bela e pomposa! Que graça de menina. Menina-mulher, pois eu a amadureço demais de vez
- Sonia, Sonia, Sonia. Ainda não havia encontrado denominação melhor. Pois devia ter pensado nisso muito antes. Imagine, não há nome melhor que lhe sirva...
Senti sua falta. Procurei me encontrar em outros universos, mas nenhum me identifica tanto quanto o teu. O teu que é meu, tu sabes bem. Pois cá estou novamente, e quero voltar a dividir minhas angústias que te dão vida. Transfiro pra tua existência toda a confusão acerca de minha mente. Isso me conforta e sei que te agrada muito. Encontro em você a companhia que sempre busquei nos dias nublados, ou aqueles em que o sol faz até arder os olhos com tanta claridade. O teu afago invisível se faz presente quando próxima de mim. É tão bom. É tão bom tê-la outra vez. As pessoas vão embora o tempo todo. Os outros. Você fica, Sonia. Você sempre permanece
sábado, 17 de outubro de 2009
quinta-feira, 17 de setembro de 2009
Eu fico aqui com meus discos dos beatles e um riso perdido no teto do quarto, lendo cartas antigas de amores improváveis, canções com cheiro de passado. Um perfume desbotado que já não impregna mais. Flores secas dentro de um livro, ou um diário antigo que guarda dias antigos. O preto e o branco reconstituindo cenas como em um daqueles filmes que eu gostava de assistir. Um céu azul e as nuvens com seus formatos faziam parte de um quadro. Meu lindo cenário em dias de sol. Mas ouço alguém dizer dentro de mim: - Old times, meu amigo. Já passou...
Pois não vivo se é pra esquecer
vivo pra existir naquilo que já fui.
sábado, 5 de setembro de 2009
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
Meu corpo responde aos comandos criados pelos meus sentidos. Ver, ouvir, falar. Mas ainda falta. É preciso tocar. É preciso sentir com a pele, degustar através das mãos. Escutar através dos poros da textura sólida, a linguagem do seu corpo de mulher. A delicada silhueta feminina que instiga o instinto carnal, misturando-se ao sentimento que oxigena a alma, fazendo ressurgir das cinzas a inocência de um sentir puro e sensível a tudo o que se faz sórdido. Os fios de cabelo longos e macios que dançam com o vento suplicam a carícia dos meus dedos. Perfume de moça é a essência da beleza das flores que vem com a brisa fresca. O cheiro me faz pairar nas nuvens mais altas do céu.
Trago pra mim em sonhos profundos e lúcidos, o sabor de beijos ardentes e cheios de amor. É lá que me encontro. Lá onde você existe. É a minha realidade, a bolha, a minha lei.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Depois vou pegar a minha mala e os meus cigarros velhos e voltar pra estrada que antes me levou.
Vou olhar a lua cheia e pedir que ela guie minhas pernas pra qualquer lugar seguro
E que me faça adormecer contando histórias de terror.
Vou deixar o vento sussurrar nos meus ouvidos os segredos que a noite esconde
E quando amanhecer com o sol sorrindo, a minha gaita me fará a companhia que preciso.
A solidão será o que me fará entender os motivos pelo qual parti. E a liberdade será o que irá me permitir seguir.
Então deixo pra trás o tempo, o medo e as correntes da minha prisão.
E vou embora pra não voltar.
Vou embora pra algum lugar que seja meu.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Medo
Que me esconde atrás das pernas da tia
Com medo da mulher estranha.
Medo que me refugia,
Que me esconde debaixo dos cobertores
Com medo de olhar debaixo da cama.
Medo que me cala os lábios,
Que me esconde na multidão
Com medo de falar alto.
Medo do público, do mundo, dos outros.
Encolho-me embaixo da mesa
Encolho-me e ela me acolhe.
terça-feira, 23 de junho de 2009
deixei pendurado
e toda vez que eu paro pra olhar
me vem a saudade pra sufocar.
Distância que vai e vem
que tras as malas e volta sem
- vem pra ficar, meu bem.
Mas teu sorriso gravado na parede
me satisfaz mesmo carente do teu abraço.
e quando perto do meu beijo você sorri
eu entendo que a saudade que eu senti
era a vontade de ter gravado teu sorriso,
não na parede,
mas em mim.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Quando as minhas mãos desenhavam sobre o papel
E debaixo da fruteira eu derretia meus versos.
Perdi a forma certa de pintar cenários,
Esboçar palavras no rascunho em branco
Perdi a fórmula de calcular frases coerentes,
De conjugar os verbos na pessoa certa.
Já não existe mais a mente esclarecida.
Já não encontro mais a inspiração sensata.
"O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence. "
Cecília Meireles
sábado, 18 de abril de 2009
Sou minha
segunda-feira, 6 de abril de 2009
[...]
quarta-feira, 25 de março de 2009
Cenário
A protagonista fugiu. Voou, voou...
Sem pés no chão, sapatos na mão. Olhou pro céu, e então caiu, estatelou.
Um cenário de vidro. A protagonista quebrou. Acabou, acabou...
sexta-feira, 13 de março de 2009
Fotografia
Leoni
terça-feira, 10 de março de 2009
Lençois de seda
A cama vazia, o olhar dela no espelho quebrado. Contorce-se entre os lençóis, grita, entorpecida com a ferida que se abriga em seu ventre. A dor fere-lhe. São como estacas que invadem os poros de sua pele. São como espinhos que espetam a carne macia.
Aonde chegara, afinal? Já não havia mais portas onde pudesse escolher uma saída sem escorregar pelos degraus da escada que conseguiu subir. Tentou mudar, salvar-se, mas a vida talvez não lhe tivesse sido tão generosa.
Por trás dos olhos de mel, havia ainda os olhos amargos.
Correu para a sacada do prédio, vestida de lençóis de seda e lágrimas de sangue. Despiu-se e deitou-se no chão frio de mármore. Purificava o corpo sob a luz de uma lua cheia, cheia de piedade. O ar gélido reprimia seu corpo contra ele mesmo. Corpo bordado de flores. Seios que seduziam o céu. Lábios que cantavam silêncio. Musa de uma noite morta. Os braços e pernas lhe pareciam não fazer mais parte do conjunto de suas curvas. Derretia-se no veneno de seu pecado.
domingo, 8 de março de 2009
ao dia das mulheres
"02 de março de 2009
O dia delas
No próximo dia 8, o mundo homenageia as mulheres. Não sei exatamente a origem desta comemoração, mas compreendo que se trata de uma data muito bonita. Muitas delas recebem flores, poesias e presentes.
E não apenas neste dia, as mulheres são rotineiramente surpreendidas. É no aniversário de nascimento, de namoro, de casamento, no Dia das Mães, num dia qualquer com uma demonstração de amor do pai, do irmão, do namorado, do marido ou do amante. É sempre bom preparar aquela surpresa.
Elas amam. Ainda mais se for com flores ou bombons.
Tem gente que faz aquela piada de que todos os outros dias do ano são dos homens. Eu não concordo. Entendo que todo dia é dia de homenagear, seja homem ou mulher. No entanto, neste momento em que a humanidade comemora um movimento feminista, vale destacar um comparativo que constatei esta semana.
No sábado, as mulheres se reuniram no Santa Fé, num chá promovido pelo Apoio Feminino da Adhonep. Tudo muito bonito, tudo muito delicado. Pude perceber que elas realmente conquistam o mercado de trabalho. Mas confesso que serei eternamente admirador daquelas corajosas que renunciaram a profissão para dedicar-se ao ofício de cuidar dos filhos e do marido e administrar a casa.
Este é, inclusive, o tema do suplemento especial do Dia da Mulher do Jornal de Beltrão deste ano. Enquanto ainda produzimos as reportagens, constato lindas histórias de mulheres que se destacam, sem deixar o seu lar. Onde quer que elas estejam, estão sempre colorindo os nossos olhos."
Agora, a minha resposta ao tal jornalista:
"Resposta ao jornalista Thiago Chiapetti do Jornal de Beltrão.
Não precisamos de flores, bombons, presentes, poesias, enfim, agrados materiais que o jornalista Thiago Chiapetti acredita que nós, mulheres, amamos receber, se não temos o reconhecimento da nossa importância na sociedade. O nosso caro jornalista relata em seu discurso, “Não sei exatamente a origem desta comemoração, mas compreendo que se trata de uma data muito bonita.”. A partir daí o artigo perdeu totalmente o sentido. Acredito que a função de um jornalista é buscar informações sobre aquilo o que ele deseja escrever publicamente. Até mesmo meu irmão de seis anos de idade já aprendeu sobre a origem da comemoração do dia das mulheres (deixo claro minha ironia).
Quanto ao tema do suplemento especial do Dia da Mulher do Jornal de Beltrão que homenageia as mulheres donas-de-casa, “mulheres que se destacam, sem deixar o seu lar”, segundo Chiapetti, quero dizer que também as admiro. No entanto, a razão de se comemorar essa data está refletida na luta que as mulheres sempre enfrentaram em sobressair-se no mercado de trabalho, buscando por direitos iguais, por melhores salários, pelo fim da violência e o preconceito masculino, ou seja, a desvalorização da mulher na sociedade. Essa luta não é de hoje, como relata o autor ao dizer, “neste momento em que a humanidade comemora um movimento feminista”. Engana-se, pois há décadas que o movimento feminista vem ocorrendo [informe-se melhor, caro informante].
Quanto ao “comemorar”, o que exatamente deveríamos comemorar? Os baixos salários comparados aos dos homens? A violência que as mesmas sofrem por seus pais, namorados, companheiros? A ingratidão dos próprios filhos? A “mercantilização” do corpo como produto de venda publicitária? Sim, já alcançamos muitas conquistas e direitos. Eles estão contidos em algum lugar da legislação brasileira, mas será que na prática também?
Nós, mulheres, ainda temos muita camisa para suar, muitos leões para matar, muitas batalhas para vencer. E repito, não são flores, bombons, presentes e poesias que vão nos satisfazer, mas sim, o respeito e a consideração de uma sociedade machista.
Stephanie Natalie Burille, 19 anos, estudante de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do Paraná."
sábado, 7 de março de 2009
“Perto do coração selvagem”, Clarice Lispector .
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
Cartas
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Eu pergunto,
sábado, 14 de fevereiro de 2009
O anjo mais velho
agora é assim
de um lado a poesia, o verbo, a saudade
do outro, a luta, a força e a coragem pra chegar no fim
e o fim é belo, incerto...
depende de como você vê
o novo, o credo, a fé que você deposita em você e só
Só enquanto eu respirar
Vou me lembrar de você."
Teatro Mágico
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Perdi a hora...
vamos esquecer de voltar
o caminho é longo,
eu aprendi.
sem desculpas pra não inventar
sem retorno pra recomeçar
o arrepender caiu de moda
não precisou se desculpar
as cores perderam o tom
a música perdeu seu som
sem poemas ou canções do avesso
dia e noite, sinônimos de tempo
o tudo deixou de ser
o nada voltou a estar
e o vento mudou a direção
pra deixar a vida passar.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
?!
Procurava entender pontos de vista alheios. Procurava entender que não era a única a tropeçar. No entanto, nunca entendeu o porque deveria entender tudo isso.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
Janeiro. Férias.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
Pra rua me levar
Há outras coisas no caminho onde eu vou
As vezes ando só trocando passos com a solidão
Momentos que são meus, e que não abro mão
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar
Ver a cidade se acender
A lua vai banhar esse lugar
Eu vou lembrar você
É mas tenho ainda muita coisa pra arrumar
Promessas que me fiz e que ainda não cumpri
Palavras me aguardam o tempo exato pra falar
Coisas minhas, talvez você nem queira ouvir
Já sei olhar o rio por onde a vida passa
Sem me precipitar, e nem perder a hora
Escuto no silêncio que há em mim e basta
Outro tempo começou pra mim agora
Vou deixar a rua me levar
Ana Carolina
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
rima pobre.
e o tempo passa rápido demais
não sei se devo parar pra pensar
se devo seguir sem olhar pra trás
se o futuro pertence aos demais
ou só a quem eu penso ser eu
mas o mundo gira devagar
e o tempo não espera você chegar
o hoje era o ontem de amanhã
e quem sabe não se pode mais errar.
uma rima idiota.
saudade de escrever também.
domingo, 25 de janeiro de 2009
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
hoje a estrada é minha
pronta pra partir
partir pra longe,
pra distrair.
não sei quando volto
só sei que devo ir
pra bem distante,
pra além daqui,
pra além de mim.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2009
Por Markus Zusak
Nenhuma dessas coisas, porém, saiu de minha boca.
Tudo que pude fazer foi virar-me para Liesel Meminger e lhe dizer a única verdade que realmente sei. Eu disse à menina que roubava livros e a digo a você agora.
UMA ÚLTIMA NOTA DE SUA NARRADORA:
Os seres humanos me assombram."
A última página de a menina que roubava livros. A última frase.
Um pouco familiar, não?! hehe.
domingo, 11 de janeiro de 2009
The Blues come over me
Outros estilos musicais como o ragtime, o jazz, o rhythm and blues, o rock and roll, a música country, além de ska-rocksteady, soul music, a música pop convencional e até a música clássica moderna se originaram ou foram influenciados de alguma forma pelo Blues.
Blues, que na tradução quer dizer melancolia, deixa de ser um estereótipo musical. Blues é a música da alma. É a expressão do estado de espírito. Suas notas e seus versos são capazes de preencher, de fazer sentir cada timbre soar dentro de nós. A sensualidade consegue transpassar as cordas do violão e da guitarra, o sopro da gaita ou do sax.
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
Fantasmas não choram
A noite trazia o silêncio ensurdecedor. Trazia também as lembranças. O passado exalava o perfume das outras estações. Houve dias de sua vida que mereciam ser guardados dentro de uma caixa colorida com fitas de cetim. Houve momentos que mereciam durar uma eternidade. Agora só restavam lembranças.
Uma lágrima escorreu pelo rosto branco, sem expressão. Desceu lentamente, regando os poros que encontrava na superfície da pele. Tocou o canto dos lábios. Ela enxugou a pequena gota. Tratou de expulsar aquele amontoado de líquido celular. Recompôs-se. Afinal, fantasmas não choram.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
[...]
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Fernando Pessoa
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Presente à flor do limo.
da pele morena e do cabelo macio.
Menina que se esconde longe
lá perto do mar,
debaixo do céu.
Sereia bonita, tão cheia de curvas
mistério e charme pra seduzir
a voz tão doce canta as notas mais suaves
que é pra encantar à quem por perto está.
Menina de luz, única, intensa
se entrega pro mundo, pra vida, e pra ser feliz.
Se cai, levanta.
Se sorri, contagia.
Se abraça, protege.
Menina do coração enorme, que acolhe, que ama.
É ela, Satine, completa por si só.
Beleza que não se compara, não se descreve.
Olhos sinceros de menina,
jeito distinto de mulher.
Flor bela.
Como uma de minhas autoras de preferência, Florbela me cativou pela sua feminilidade ao suavizar as palavras e torná-las mais íntimas. Temas como solidão, desespero, sofrimento, traduzidos em ternura, sensibilidade, me fizeram sentir atraída por seus versos.
Uma Don Juan mulher, que canta suas tristezas no papel, que nos faz apaixonar por seu talento.
Estendo os braços meus! Chamo por ti ainda!
Eu grito a minha dor, a minha dor intensa!
Em gritos, a chorar, soluço o nome teu
Um Ás de Copas fora do baralho
Eu morava longe daqui. Convivia com outras cartas muito simpáticas e morava com uma mulher que cuidava da gente. Ela era uma cigana. É, É... eu sei que toda carta deseja ser posse de uma cigana. Só elas sabem o valor que temos.
Ela era delicada. Podíamos sentir a suavidade de suas mãos ao nos embaralhar. Sentíamos que ela nos sentia. Só ela tinha aquele jeito dela de jogar, de abrir o jogo, de nos distribuir na mesa.
Dentre todas as cartas, eu era aquela que ela mais gostava. Ela me guardava no bolso de seu vestido verde e me levava por aí. Ela só não gostava muito quando me via no meio do jogo da sorte de alguém.
Foi então que um dia ela decidiu ler a própria sorte. Estava sentada na mesma mesa, por entre a penumbra, com o incenso e as velas acesas. Tudo como naturalmente era feito. Ela pegou as cartas e embaralhou todas. Eu estava lá no meio. Foi então que ela começou o jogo. De repente chegou a minha vez. Eu estava entre as cartas escolhidas. Isso assustava. Isso assustava muito.
A cigana levantou. Cambaleou para o lado. Sua respiração era um pouco ofegante. Pude ver a preocupação em seu semblante. Logo notei que eu era a carta inesperada que predizia má sorte.
Depois disso percebi que o comportamento da cigana em relação a mim, mudou. Eu já não era mais a carta preferida. Já não era carregada no bolso. Às vezes ela me trancava em uma gaveta, longe das outras.
Então, certo dia ela decidiu que eu já não faria mais parte daquele monte de baralho. Eu partiria para muito longe dela, para que não mais trouxesse o azar no jogo de sua vida.
Pois é, meus amigos. Agora estou aqui, de passagem apenas. Continuarei a seguir o meu destino. Quem sabe um dia encontre um baralho incompleto, onde caiba ainda um Ás de Copas perdido. E se os senhores um dia encontrarem uma cigana vestida de verde, dos olhos doces e da pele suave, peço-lhes que lhe digam que sinto falta do aconchego de seu bolso, do toque de suas mãos e do carinho que ela sabia me fazer sentir. Digam a esta mulher, que procuro ainda a resposta certa e os motivos certos de um adeus tão frio e amargo. Agora sou apenas um Ás de Copas vagando fora do baralho.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Um piano. Uma voz.
dispense o título.
Deitada no sofá da sala fitava o teto em profunda concentração, enquanto as cortinas da janela dançavam com o vento. Pílulas em cima da mesa e uma madrugada em branco lhe faziam companhia. Lágrimas escorriam por sua face suja de olheiras. Vestia seu vestido mais novo da cor de suas unhas pintadas de esmalte rubi. A sandália do salto alto encolhia-se em um canto qualquer. Seu corpo ainda exalava o perfume francês. Já havia se acomodado dentro de sua bolha não tão transparente.
Pensou que poderia ter se libertado, porém, arrependimento e escrúpulos eram só o que ainda restava em sua consciência. Que mais poderia sentir além da culpa e da pena de si mesma?
Sabia que a porta não estava trancada. Alguém havia partido há algumas horas atrás. Partido pra não mais voltar.
Já era quase de manhã. Enfim fechou os olhos. Tudo continuou no lugar. Tudo como ontem à noite. Tudo como deveria continuar.